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“Dizem que em algum lugar, no Brasil, existe um homem feliz”, é com esta frase de Vladimir Maiakovski, que Rubens Rewald encerra seu documentário sobre a trajetória de Jair Rodrigues. Intitulado “Jair Rodrigues: Deixa Que Digam”, a produção se aprofunda no jeito irreverente e as nuances que permeiam o sorriso largo do cantor, em um tempo em que era a alegria personificada em artista. Tudo isso no auge da ditadura militar, em meados dos anos 1960. O filme chega aos cinemas de todo o Brasil no dia 27 de abril. Até o momento estão confirmadas as praças de São Paulo (capital e interior), Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Brasília, Salvador e o circuito de cinema de arte. O longa, que foi exibido no festival "É Tudo Verdade", em 2020 e vencer na categoria de Melhor Filme pelo Voto do Público na Mostra "XIII Brazilian Film Festival", de Chicago, em 2022, estreia nas telonas pela distribuição da Elo Studio.
“Quando se faz um filme, é importante que a narrativa tenha conflito. Eu tinha como objetivo pesquisar se era um mito ele ser tido como o homem mais feliz do mundo. Queria encontrar uma zona de sombra no personagem. Perguntamos sobre Jair aparentar tristeza e ninguém nunca viu. Era pura alegria. Então, fizemos um longa que mostra a realidade de Jair, essa pessoa que representa um país alegre, otimista, que não existe mais. Representante de um país que se perdeu e está tentando se recuperar”, comenta o diretor Rubens Rewald.
Produzido pela Confeitaria de Cinema, o documentário traz imagens de arquivo e entrevistas com personalidades como Rappin' Hood, Salloma Salomão, Raul Gil, Roberta Miranda, Bruno Baronetti, Hermeto Pascoal, Moisés da Rocha, Armando Pittigliani, Mister Sam, Theo de Barros, Simoninha, Solano Ribeiro, Carlinhos Creck, Paulinho Dafilin, Marcelo Maita, Giba Favery e Zuza Homem de Mello - em um dos últimos registros do musicólogo, falecido em 2020.
Os filhos do cantor, Luciana Mello e Jair Oliveira, seu irmão Jairo Rodrigues e sua esposa, Claudine Rodrigues, também compartilham lembranças vividas ao seu lado. À convite do diretor, Jairzinho interpreta seu pai em diversas passagens importantes e reflexivas do documentário.
O longa caminha entre momentos marcantes de Jair como apresentador no programa “Fino da Bossa”, ao lado de Elis Regina; a interpretação da música “Disparada”, de Geraldo Vandré e Theo de Barros; à sua liberdade artística em meio à ditadura militar, quando dava a parecer não se posicionar sobre política e não falar sobre racismo: “Jairzão não era um artista que se mostrou militante, mas nas entrelinhas, militava”, diz Rappin’ Hood em depoimento ao filme.
Para o músico e pesquisador Salloma Salomão, não era possível ter um ativismo contundente nos anos 70. " O Racismo impõe que os negros sejam afáveis, sobretudo quando estão diante de brancos. Os negros aprenderam a dosar o seu sentimento em relação ao racismo e alguns criaram arquétipos ou personagens. É um personagem para andar num mundo onde os negros não andam. Os negros podem andar no mundo do gênero samba, do samba estilo de vida, mas não nos negócios do entretenimento. Para isso, ele precisa lidar direto com os brancos, que são aqueles que detém os meios de produção do entretenimento”, comenta.
Como uma estratégia de seguir relevante em sua arte neste período, Jair Rodrigues exaltava suas origens e a cultura negra em músicas como as do disco “Festa Para Um Rei Negro”: “Ao gravar, em 71, o samba enredo para a Salgueiro, ‘Festa para um rei negro’, (...) ele estava fazendo uma luta política, uma luta das classes mais oprimidas. Gravando compositores das escolas de samba, gravando pessoas que nunca foram gravadas”, diz o historiador Bruno Baronetti.
O documentário também aborda o lado pessoal do cantor, em imagens íntimas ao lado do filho, Jairzinho, enquanto compunham juntos, e em shows com a participação de Luciana Mello.
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